quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Um pequeno contributo para a quadra!
Feliz Natal


Auto de pastores

Narrador
A história que vou contar,
Aconteceu há muito tempo.
É uma história de encantar,
Quero o povo bem atento.

A noite estava escura
E toda a gente dormia.
Uma estrela rasga o céu,
Tão clara como o dia.

Pastor1
Acordai rapazes, que medo
Eu senti ainda agora.
Uma luz aqui passou
Com o brilho da aurora.

Pastor2
Deita-te e está calado!
O que tiveste foi um sonho.
Deixa-me dormir sossegado
Que eu estou a morrer de sono.

Pastor3
Agora, a meio da noite,
É que vos apeteceu conversar.
Vamos lá piar baixinho
É preciso descansar.

Narrador
De novo o brilho surgiu
E ficou tudo quieto.
Nem uma palavra se ouviu
Das bocas, mudas de medo.

Anjo1
Não tenhais medo pastores
O mundo não vai acabar.
Ouvi agora a boa nova
Que temos para vos contar.

Anjo2
Já nasceu o Deus Menino,
Já nasceu ainda agora.
Ide, que o caminho
Demora mais de uma hora.

Pastor3
Quem é esse de que falas
Assim com tanto empenho?
E fazes que eu acorde,
De todo o sono que tenho.

Pastor4
Nunca leste as escrituras?
Meu ignorante jumento.
Há de nascer pobrezinho
O Senhor do firmamento.

Pastor3
Sabes bem que nem sei ler
E que tu nem uma letra …
Pastor4
Mas ficas já saber
Que sei ouvir e muito bem.

Esse menino é Jesus,
É o nosso Salvador.
Ao mundo traz ele a luz,
Para encher tudo de amor.

Anjo1
Pegai nos vossos alforges
E também no vosso gado,
Ide adorar o menino
Que está em palhas deitado.

Pastor5
E onde está o menino
Para o podermos adorar?
Indica-nos o caminho
Ou segue para nos guiar.

Anjo2
Aquela estrela que vedes...
Indica-vos o caminho.
No sítio onde parar
Encontrareis Deus Menino.

Narrador
Foram-se embora os anjos,
Escuro voltou a ficar,
Brilhou bem forte a estrela
Que os havia de guiar.

Puseram-se logo andar.
Logo, naquele momento.
A sorrir e a cantar
Cheios de contentamento.

Pastor1
Olhai como já parou
A estrela que nos guia!
Naquela gruta achou
O dono da nossa alegria.

Pastor2
Já vejo o Deus Menino
Naquelas palhas deitado.
Sua mãe dá-lhe carinho
S. José está a seu lado.

Pastor3
Uma vaca e um burrinho
São a sua companhia,
Vão mantendo bem quentinho,
O menino, até ser dia.

Pastores (todos)
Toma Jesus, o que podemos,
Uma ovelha ou cabritinho.
Para dar, nada mais temos
A não ser nosso carinho.

Pastor4
Se não queres nada de nós
Damos-te a nossa companhia,
Para não estardes sós
Ficaremos até ser dia.

Pastor5
Faremos uma fogueira
Pois o dia ainda tarda.
Descansa José e Maria
Nós ficaremos de guarda.

Narrador
Assim ficaram ali,
Os pastores, até ser dia.
E digo-vos que ainda não vi
Noite de tanta alegria.

Mas nem um ruído se ouviu
Na vigília dos pastores.
E o presépio dormiu,
Garanto-vos meus senhores.

Jorge Pimentel

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A propósito de uma aula a que assisti, na qual a operacionalização dos objectivos - reconhecer e utilizar a rima, num quadro mais vasto de desenvolvimento de consciência linguística - passou pela escrita em grupo de frases segmentadas em "Nome / Característica do Nome" (rimando esta com o anterior), apeteceu-me criar este pequeno texto que proporia em sentido inverso, da seguinte forma.

Vamos atribuir nomes aos alunos de uma turma, a partir do seguinte texto (que aqui apresento em "possível versão produto").

Na minha turma curiosa
Tenho uma amiga que é
Rosa.

Ao meu lado, na mesa
Escreve a colega
Teresa.

Mesmo por trás de mim
Fica o lugar do
Joaquim.

Lá longe, junto à janela
É o lugar da
Manuela.

Em frente à porta, lá atrás
É a carteira do
Tomás.

Quem se senta à minha frente
É o meu amigo
Clemente.

Junto ao quadro, de pé,
Está o colega
José,

Que escreve num papel
O nome do
Manuel.

De todos, eu sou muito amigo
Especialmente do
Rodrigo
Que mora na minha rua.

Adivinha quem sou eu
Já que o meu nome é
Romeu.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Todo o mundo é composto de mudança

Não se trata de imposição de moda...
Não se trata do reconhecimento cego de um destino...

Apenas se trata...
De uma busca em torno da legibilidade.

Em todo o caso...
Nada é definitivo nem obrigatoriamente estático.

Aceitam-se sugestões!

Novidades em blogues


No Blogue Junior da escola de Abade de Vermoim - http://bloguejuniordeabadedevermoim.blogspot.com/ - o colega Pedro Costa cria um link para
http://static.publico.clix.pt/fotogalerias/letrapequena/travaLinguas.aspx um sítio do PUBLICO, onde encontrou um trava-línguas que achou pertinente.

Na mensagem, iniciada por um interessante "Meus amigos", o Pedro não só propõe uma actividade, como faz uma interessante apologia da leitura com este comentário "... página do Público, de entre todos o meu jornal preferido e a página da net que mais vezes consulto e já consultei na minha vida, estou bem certo." .

O nosso exemplo pode ser ligeiro e discreto, mas é muitas vezes tido em conta.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Consciência fonológica

Que parte das competências comunicativas fica afectada por um deficiente preparo para a audição?
O som, em propósito comunicativo, tem que ser ouvido pelo receptor e, por este, trabalhado a um nível consciente, que distingue, no contínuo sonoro que o emissor elabora, as unidades sonoras que permitem a construção de unidades de significação.
Perturbações auditivas, deficiente atenção e desenvolvimento fonológico, conduzem à impreparação do indivíduo para o papel de receptor (nomeadamente ao nível da compreensão das mensagens) mas a revelação mais visível do seu impreparo acontece no papel de emissor.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sr fcl lr sm vgs?


Sr fcl lr sm vgs ?

Vms vr!

Xprmnt clcr s vgs ns plvrs q ls.
Prcbrs s ntndst!

Dsf-t…

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Intencionalidade e competência comunicativa

Comunicar com intencionalidade obriga ao uso especialmente orientado dos recursos comunicativos.
Usar a linguagem de forma a que sobre ela se exerça um domínio tão perfeito, que ela CUMPRA plenamente o seu objectivo é, de facto, LITERACIA.

Quantos de nós, professores, estaremos preparados para perceber que nada é simples no mundo das competências.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

A Cantar e a tocar é que a gente se entende


Colocado o desafio: "Avançar ideias para um concerto de música", embarcámos na construção de um mini musical (ao jeito de um Filipe La Féria ???). Escrevemos textos, re-escrevemos, riscámos, ficámos frustrados, não desistimos, avançámos, inventámos, divertimo-nos e eis que nasceu A OBRA! - "A Cantar e a tocar é que a gente se entende" - Um musical divertido.

Narrador: (olha a bola Manel)
A Ana e a Catarina
Eram duas irmãs
Viviam muito juntinhas
Do Reino das Fantasias

Trabalhava a Ana
Limpava e arrumava,
Cozinhava e lavava também
Não tinha tempo
Para rir e brincar
Nem sonhar com ninguém

Catarina passeava,
Sonhava e brincava à grande
Nunca, nunca lhe passava
Pensar ajudar alguém

Certo dia, porém
Ana encheu-se de vez
E houve grande confusão
Com mãos nas ancas,
Com Catarina gritou
Como nunca até então.

Ana: Eu estou farta de trabalhar e de tu nunca me ajudares. Estás sempre na boa vida, não sabes fazer nada!

Catarina: Isso não é verdade, eu também faço algumas coisas!

Ana: Tais como?

Catarina: Passear com os animais, conversar com eles, fazer-lhes festas, cheirar as flores ...

Ana: Olha que grande coisa! Quem é que cozinha o que tu comes? Quem é que muda a tua cama? Quem é que lava a tua roupa? EU! EU! EU! Estou farta. De hoje em diante tratas tu das tuas coisas!

Narrador: (Machadinha)
Ana não gostava de discussões
Fugiu p'rá floresta das Ilusões
Tentou acalmar
Acabou a dormir
Como detestava discutir

Cat'rina também
P'ra lá foi
O que a Ana disse
Na cabeça moi
Mas seu coração não quer ouvir
O que ela quer é se distrair

Esta floresta é especial
Nela vivem criaturas sem igual:
Ogres, bruxas, e piratas
Fadas, princesas e primatas

Nesse dia reboliço havia
Vilão e heroi junto discutia
Jogo de talentos que mais tarde seria
Quem cantasse melhor venceria



Ouriço Reboliço: Vamos lá Tartaruga Pulga. A este andar chegamos só no final do concurso!

Tartaruga Pulga: Ó ouriço Reboliço, que queres que te faça? Tu, basta enrolares-te e lá vais que nem uma bola a rolar pelo chão fora. Agora eu, para estar aqui saí à três dias de casa!

Joaninha Ritinha: Olá amigos!

T.P + O.R : Olá Joaninha Ritinha!

O.R: Sabes algumas novidades acerca do concurso?

Joaninha Ritinha: Se sei! Ouvi dizer que este concurso vai ser decisivo! Quem quer que ganhe vai governar todo o reino da Fantasia durante os próximos 100 anos!

O.R: O quê? Estamos tramados! Imgina que é o bando dos ogres e companhia! A nossa vida vai ser um inferno! Vão perseguir-nos, vão assustar-nos, vão pregar-nos partidas, vai ser tudo escuro e triste ....

T.P: Calma! Olha que se for o Bando dos Betinhos a nossa vida não vai ser muito melhor. Tudo certinho, direitinho e perfeito, o mundo todo cor-de-rosa ... Imagina que implicam contigo por tu picares ou comigo por ser tão lento?

J.R: Não há nada a fazer! Houve um grande desentendimento no mundo fora do Reino da Fantasia e agora alguem vai sofrer se não se voltarem a entender!

(De repente passa um vulto veloz e verde )

Rato Pedro: Que foi aquilo?

Joan. Ri: Ó Rato Pedro, não o quê! Quem! Só poderá ser o Dragão Sabichão. Ele exigiu fazer parte do Juri. Ouvi dizer que quem também faz parte do juri é O Diabo Macabro e a Anjinha Papinha. Esses, já sabemos em quem vão votar!

Rato Pedro: Vamos lá, vamos lá! Dêem uma ajuda à Tartaruga Pulga.

O.R : Ufa! Chegamos! Vamos sentar ali, parece que está mesmo prestes a começar.

Passarinho Pintinho: Vamos dar início ao concurso! À esquerda temos o temível grupo dos Rufias:

Rufias: grrrrr, bu

Passarinho Pintinho: À direita o grupo doce dos Certinhos .

Certinhos: (beijinhos).

Passarinho Pintinho: Sem mais demora, vamos ouvir os melhores cantores do Reino da Fantasia. Moeda ao ar e .... Começam os Rufias!

Rufias: oh, oh, oh, oh, oh...

Passarinho Pinto: Muito...... Bem, o juri pode dar o seu voto!

Juri: 3 pontos Diabo 0 pontos Anjo 0 pontos Dragão

Passarinho Pinto: Bom, será que os Certinhos conseguem uma melhor pontuação? Vamos ouvir.

Certinhos: Dó, Ré, Mi ........

Passarinho Pinto: Foi extremamente...... bom vamos à pontuação

Juri: 0 pontos Diabo 3 pontos Anjo 0 pontos Dragão

Passarinho Pinto: Excelentíssimos senhores parece que temos um empate. Neste caso ...

Dragão Sabichão: Temos de resolver o problema...

Diabo: O problema está resolvido: ganham os mais fortes os que têm uma voz mais grave e poderosa!

Anja: Nem pensar! Ganham os mais doces os que têm uma voz mais aguda e triunfante!

(Diabo e Anja discutem)

Dragão Sabichão: Basta! Os dois grupos foram uma desgraça. Mas tenho uma sugestão!
Vamos juntar os dois grupos e ver no que é que dá. E então votamos! Concordam?

Todos: Vamos a isso!

( canção do dó, ré mi ...)

Todos aplaudem


Passarinho: Por favor, vamos ver a votação:

Juri: 3 pontos Diabo 3 pontos Anjo 3 pontos Dragão

(Todos aplaudem! Os cantores abraçam-se uns aos outros sem distinção de grupos).

Ouriço: Isto significa que pelo menos nos próximos 100 anos não vamos ter problemas ...

Joaninha Ritinha: Bem, não é bem assim pois no reino da Fantasia está tudo resolvido, e no outro mundo? Será que também já se entenderam?

Rato Pedro: Escutem!


(as irmãs acordam ao mesmo tempo)

Ana: Tive o sonho mais curioso!

Catarina: Eu também!

Ana: Sabes, acho à pouco que exagerei...

Catarina: Não.Tu tinhas razão. Eu não faço nada para te ajudar e por causa disso tu também não tens tempo para fazer aquilo que eu gosto!

Ana: Bom, eu também não sei fazer outra coisa se não trabalhar. Ensinas-me a divertir-me?

Catarina: Só se tu me ensinares os segredos da cozinha!

Narrador: (balão do João)

Mais amigas do que antes
Vão as duas irmãs
Aprenderam uma lição
Que as deixou mais sãs
O mundo não é tudo ou nada
Preto ou branco
Agudo ou grave
Harmonia só existe
Juntando's dois lados

Só assim é que a gente se entende!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Dez de Junho

Este é o dia maior para celebrar a Lingua Portuguesa.
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Da Pátria, Camões diz:

"Esta é a ditosa pátria minha amada,
à qual se o Céu me dá que eu sem perigo
torne, com esta empresa já acabada,
acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
de Luso ou Lisa, que de Baco antigo
filhos foram, parece, ou companheiros,
e nela antão os íncolas primeiros."


(os Lusíadas, Canto III, estância 21)

De outro poeta, também Grande... e merecedor de referência!

«Minha pátria é a língua portuguesa»

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Não estamos sós

Num mundo de comunicação global e de novos ambientes comunicativos, as línguas nacionais; enriquecidas por todas as suas variantes regionais, familiares, gíricas e literárias; sempre serão suporte de comunicação.
Contudo, e para além disso, serão, sobretudo, elemento organizador de pensamento.
Não existe pensamento sem suporte de uma linguagem. Só ela permite a apreensão das coisas e dos conceitos.
No âmbito de um programa de promoção de boas práticas em ensino do Português sempre valerá a pena acompanhar as preocupações de outros e as formas mo trabalham.
Felizmente que este mundo de universalidade abre as portas das escolas à nossa curiosidade de permanentes aprendentes.

- Encontrei:
http://pnepigreja.blogspot.com/
http://blogs.esel.ipleiria.pt/interescolas
http://pnepbomsucesso.blogspot.com
http://blog-pnep.ese.ipcb.pt
http://aveleda1.blogspot.com
http://blogs.ess.edu.pt/pnep
http://pnepcabanelas.blogspot.com

Haverá ainda muito sítios para visitar e, com eles, aprender.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Filho da “Estrada e do Vento ”


Tu…
Que vagueias ao sabor do vento
Que nas nuvens passa teu pensamento
Tuas mãos cheias…de nada!
Apalpam os sons e só encontram mágoa
Abrem-se numa flor, estendem as pétalas
E não encontram o Amor!...

O Amor que os homens não te querem dar!
E estendes as pétalas, dessas flores …
E não sabes gritar!
Porque a tua inocência não te deixa pensar…

E caminhas sozinho na estrada da vida
Sem carinho, sem amor e sem esperança
Um dia serás Homem!
Homem da rua, Homem da cena
E de mãos vazias
Continuarás em busca de um novo poema.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Lengalenga



Em Landim

com o 2.º Ano

da Profesora Manuela Mesquita


Alice Vieira (2002). Eu Bem vi Nascer o Sol. Caminho.
Lisboa

no fundo do mar...


Como se visualiza um poema: das palavras para a acção.

Receita:
A partir de um poema interessante (repleto de imagens e sensações ... e acções);
Interpreta-se, volta a interpretar-se...
Entendem-se, mastigam-se, saboreiam-se as palavras.
Envolve-se o texto em comunicação (para levedar!)
Lê-se! ... e desenforma-se, em gestos bem decorados de criatividade.
Acompanha-se a leitura com a representação visual corporal (dramatização).

Usámos:
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.


Uma pesquisa na Internet, motivada pelo "monstro em si suspenso" nas palavras de Sophia, conduziu-no ao vídeo http://www.ecolenet.nl/tellme/poesia/videos/mar.wmv que nos ajudou e entender o texto e que confirma a nossa ideia de que, sobre o mar, pesa permanentemente a acção poluente do homem.

No mesmo sítio http://www.ecolenet.nl/tellme/poesia/index.htm encontrámos outros textos e actividades interessantes para uso escolar.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A quinta da minha avó


Na quinta da minha avó
Anda tudo amalucado!
O gato uiva à lua…
O cão mia no telhado!

A velha galinha dá leite
E a vaca, os ovos, choca!
Para fazer o azeite
Usam a mandioca!

A laranjeira dá peras,
A figueira dá romãs!
Na videira há batatas,
Da terra nascem maçãs!

O pato come cenouras,
O coelho anda a voar!
Quando chamamos o porco
Ouvimo-lo chilrear!

Com tamanha correria
Minha avó fica cansada.
Se falarmos com o avô…
Não consegue explicar nada!

Descansem lá meus senhores.
Esqueçam tal confusão.
Esta história é só fruto
Da minha imaginação!

É tão bom quando podemos fazer o que queremos...com as palavras.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Páscoa!Curiosidades...

A Páscoa é sempre no primeiro Domingo depois da primeira Lua Cheia, após o equinócio de Primavera (20 de Março).
Esta datação da Páscoa baseia-se no calendário lunar que o povo hebreu usava para identificar a Páscoa judaica, razão pela qual a Páscoa é uma festa móvel no calendário romano.
Este ano a Páscoa acontece mais cedo do que qualquer um de nós irá ver alguma vez na sua vida! E só os mais velhos da nossa população viram alguma vez uma Páscoa tão temporã (mais velhos do que 95 anos!).
A próxima vez que a Páscoa vai ser tão cedo como este ano (23 de Março) será no ano 2228 (daqui a 220 anos).
A última vez que a Páscoa foi assim cedo foi em 1913.
Na próxima vez que a Páscoa for um dia mais cedo, 22 de Março, será no ano 2285 (daqui a 277 anos).
A última vez que foi em 22 de Março foi em 1818. Por isso, ninguém que esteja vivo hoje, viu ou irá ver uma Páscoa mais cedo do que a deste ano.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Soldadinho de chumbo

Em habitual deambulação pela net, encontrei-me com o José Fanha, no seu blog.
É sempre agradável a leitura deste autor e por isso me atrevo a colocar aqui a ligação para mais este repositório literário.
www.zefanha.blogspot.com

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Expressões de uso irreflectido

Expressões que usamos, contextualizadas, achamos nós, mas qual o seu verdadeiro significado? Vamos à sua explicação…


Erro crasso
Significado: Erro grosseiroOrigem: Na Roma antiga havia o Triunvirato: o poder dos generais era dividido por três pessoas. No primeiro destes Triunviratos, tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos. Confiante na vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar. Ainda por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca visibilidade. Os partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair. Desde então, sempre que alguém tem tudo para acertar, mas comete um erro estúpido, dizemos tratar-se de um "erro crasso".
Ter para os alfinetes
Significado: Ter dinheiro para viver.
Origem: Em outros tempos, os alfinetes eram objecto de adorno das mulheres e daí que, então, a frase significasse o dinheiro poupado para a sua compra porque os alfinetes eram um produto caro. Os anos passaram e eles tornaram-se utensílios, já não apenas de enfeite, mas utilitários e acessíveis. Todavia, a expressão chegou a ser acolhida em textos legais. Por exemplo, o Código Civil Português, aprovado por Carta de Lei de Julho de 1867, por D. Luís, dito da autoria do Visconde de Seabra, vigente em grande parte até ao Código Civil actual, incluía um artigo, o 1104, que dizia: «A mulher não pode privar o marido, por convenção antenupcial, da administração dos bens do casal; mas pode reservar para si o direito de receber, a título de alfinetes, uma parte do rendimento dos seus bens, e dispor dela livremente, contanto que não exceda a terça dos ditos rendimentos líquidos.»
Do tempo da Maria Cachucha
Significado: Muito antigo.
Origem: A cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, ao som das castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até terminar num vivo volteio. Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris. Em Portugal, a popular cantiga Maria Cachucha (ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas do povo dançarem) era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra bastante gracejadora, zombeteira.
À grande e à francesa
Significado: Viver com luxo e ostentação.
Origem: Relativa aos modos luxuosos do general Jean Andoche Junot, auxiliar de Napoleão que chegou a Portugal na primeira invasão francesa, e dos seus acompanhantes, que se passeavam vestidos de gala pela capital.
Coisas do arco-da-velha
Significado: Coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas, inverosímeis.
Origem: A expressão tem origem no Antigo Testamento; arco-da-velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do pacto que Deus fez com Noé: "Estando o arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-me-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis 9:16)
Arco-da-velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
Há também diversas histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris - beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que velha poderá ter vindo do italiano bere (beber).
Dose para cavalo
Significado: Quantidade excessiva; demasiado
Origem: Dose para cavalo, dose para elefante ou dose para leão são algumas das variantes que circulam com o mesmo significado e atendem às preferências individuais dos falantes.
Supõe-se que o cavalo, por ser forte; o elefante, por ser grande, e o leão, por ser valente, necessitam de doses exageradas de remédio para que este possa produzir o efeito desejado.
Com a ampliação do sentido, dose para cavalo e suas variantes é o exagero na ampliação de qualquer coisa desagradável, ou mesmo aquelas que só se tornam desagradáveis com o exagero.
Dar um lamiré
Significado: Sinal para começar alguma coisa
Origem: Trata-se da forma aglutinada da expressão «lá, mi, ré», que designa o diapasão, instrumento usado na afinação de instrumentos ou vozes; a partir deste significado, a expressão foi-se fixando como palavra autónoma com significação própria, designando qualquer sinal que dê começo a uma actividade. Historicamente, a expressão «dar um lamiré» está, portanto, ligada à música (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Nota: Escreve-se lamiré, com o r pronunciado como em caro.
Memória de elefante
Significado: Ter boa memória; recordar-se de tudo.·Origem: O elefante fixa tudo aquilo que aprende, por isso é uma das principais atracções do circo.
Lágrimas de crocodilo
Significado: Choro fingido.Origem: O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora a vítima.
Não poder com uma gata pelo rabo
Significado: Ser ou estar muito fraco; estar sem recursos.
Origem: O feminino, neste caso, tem o objectivo de humilhar o impotente ou fraco a que se dirige a referência. Supõe-se que a gata é mais fraca, menos veloz e menos feroz em sua própria defesa do que o gato. Na realidade, não é fácil segurar uma gata pelo rabo, e não deveria ser tão humilhante a expressão como realmente é.
Mal e porcamente
Significado: Muito mal; de modo muito imperfeito.
Origem: «Inicialmente, a expressão era "mal e parcamente". Quem fazia alguma coisa assim, agia mal e eficientemente, com parcos (poucos) recursos.
Como parcamente não era palavra de amplo conhecimento, o uso popular tratou de substituí-la por outra, parecida, bastante conhecida e adequada ao que se pretendia dizer.
E ficou " mal e porcamente", sob protesto suíno.»1 1 in A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta, vol. 1 (Editora Campus, Rio de Janeiro)
Já a formiga tem catarro
Significado: Diz-se a quem pretende ser mais do que é, sobretudo dirigido a crianças ou inexperientes.
Fazer tijolo
Significado: Morrer.
Origem: Segundo se diz, existiu um velho cemitério mouro para as bandas das Olarias, Bombarda e Forno do Tijolo. O almacávar, isto é, o cemitério mourisco, alastrava-se numa grande extensão por toda a encosta, lavado de ar e coberto de arvoredo. Após o terramoto de 1755, começando a reedificação da cidade, o barro era pouco para as construções e daí aproveitar-se todo o que aparecesse. O cemitério árabe foi tão amplamente explorado que, de mistura com a excelente terra argilosa, iam também as ossadas para fazer tijolo. Assim, é frequente ouvir-se a expressão popular em frases como esta: 'Daqui a dez anos já eu estou a fazer tijolo'. in 'Dicionário de Expressões Correntes' ; Orlando Neves
Fila indiana
Significado: enfiada de pessoas ou coisas dispostas umas após outras.
Origem: Forma de caminhar dos índios da América que, deste modo, tapavam as pegadas dos que iam na frente.
Andar à toa
Significado: Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.Origem: Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está "à toa" é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar.
Embandeirar em arco
Significado: Manifestação efusiva de alegria. Origem: Na Marinha, em dias de gala ou simplesmente festivos, os navios embandeiram em arco, isto é, içam pelas adriças ou cabos (vergueiros) de embandeiramento galhardetes, bandeiras e cometas quase até ao topo dos mastros, indo um dos seus extremos para a proa e outro para a popa. Assim são assinalados esses dias de regozijo ou se saúdam outros barcos que se manifestam da mesma forma.
Cair da tripeça
Significado: Qualquer coisa que, dada a sua velhice, se desconjunta facilmente. Origem: A tripeça é um banco de madeira de três pés, muito usado na província, sobretudo junto às lareiras. Uma pessoa de avançada idade aí sentada, com o calor do fogo, facilmente adormece e tomba.
Fazer tábua rasa
Significado: Esquecer completamente um assunto para recomeçar em novas bases.
Origem: A tabula rasa, no latim, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito. A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua opinião, completamente vazio. Também John Locke (1632 1704), pensador inglês, em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatísmo, afirmava que o homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida, da experiência. «Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa, limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma. Tabula rasa in qua nihil scriptum. Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»
Ave de mau agouro
Significado: Diz-se de pessoa portadora de más notícias ou que, com a sua presença, anuncia desgraças.
Origem: O conhecimento do futuro é uma das preocupações inerentes ao ser humano. Quase tudo servia para, de maneiras diversas, se tentar obter esse conhecimento. As aves eram um dos recursos que se utilizava. Para se saberem os bons ou maus auspícios (avis spicium) consultavam-se as aves. No tempo dos áugures romanos, a predição dos bons ou maus acontecimentos era feita através da leitura do seu voo, canto ou entranhas. Os pássaros que mais atentamente eram seguidos no seu voo, ouvidos nos seus cantos e aos quais se analisavam as vísceras eram a águia, o abutre, o milhafre, a coruja, o corvo e a gralha. Ainda hoje perdura, popularmente, a conotação funesta com qualquer destas aves.
Verdade de La Palisse
Significado: Uma verdade de La Palice (ou lapalissada / lapaliçada) é evidência tão grande, que se torna ridícula.
Origem: O guerreiro francês Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (1470-1525), nada fez para denominar hoje um truísmo. Fama tão negativa e multissecular deve-se a um erro de interpretação. Na sua época, este chefe militar celebrizou-se pela vitória em várias campanhas. Até que, na batalha de Pavia, foi morto em pleno combate. E os soldados que ele comandava, impressionados pela sua valentia, compuseram em sua honra uma canção com versos ingénuos: "O Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia; / Momentos antes da sua morte, / Podem crer, inda vivia." O autor queria dizer que Jacques de Chabannes pelejara até ao fim, isto é, "momentos antes da sua morte", ainda lutava. Mas saiu-lhe um truísmo, uma evidência. Segundo a enciclopédia Lello, alguns historiadores consideram esta versão apócrifa. Só no século XVIII se atribuiu a La Palice um estribilho que lhe não dizia respeito. Portanto, fosse qual fosse o intuito dos versos, Jacques de Chabannes não teve culpa. Nota: Em Portugal, empregam-se as duas grafias: La Palice ou La Palisse.
Ter ouvidos de tísico
Significado: Ouvir muito bem. Origem: Antes da II Guerra Mundial (l939 a l945), muitos jovens sofriam de uma doença denominada tísica, que corresponde à tuberculose. A forma mais mortífera era a tuberculose pulmonar.
Com o aparecimento dos antibióticos durante a II Guerra Mundial, foi possível combater este doença com muito maior êxito.
As pessoas que sofrem de tuberculose pulmonar tornam-se muito sensíveis, incluindo uma notável capacidade auditiva. A expressão «ter ouvidos de tísico» significa, portanto, «ouvir tão bem como aqueles que sofrem de tuberculose pulmonar».
Comer muito queijo
Significado: Ser esquecido; ter má memória
Origem: A origem desta expressão portuguesa pode explicar-se pela relação de causalidade que, em séculos anteriores, era estabelecida entre a ingestão de lacticínios e a diminuição de certas faculdades intelectuais, especificamente a memória. A comprovar a existência desta crença existe o excerto da obra do padre Manuel Bernardes "Nova Floresta", relativo aos procedimentos a observar para manter e exercitar a memória: «Há também memória artificial da qual uma parte consiste na abstinência de comeres nocivos a esta faculdade, como são lacticínios, carnes salgadas, frutas verdes, e vinho sem muita moderação: e também o demasiado uso do tabaco». Sabe-se hoje, através dos conhecimentos provenientes dos estudos sobre memória e nutrição, que o leite e o queijo são fornecedores privilegiados de cálcio e de fósforo, elementos importantes para o trabalho cerebral. Apesar do contributo da ciência para desmistificar uma antiga crença popular, a ideia do queijo como alimento nocivo à memória ficou cristalizada na expressão fixa «comer (muito) queijo».
Acordo leonino
Significado: Um «acordo leonino» é aquele em que um dos contratantes aceita condições desvantajosas em relação a outro contratante que fica em grande vantagem.Origem: «Acordo leonino» é, pois, uma expressão retórica sugerida nomeadamente pelas fábulas em que o leão se revela como todo-poderoso.
Que massada*!
Significado: Exclamação usada para referir uma tragédia ou contra-tempo.
Origem: É uma alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio colectivo para não se renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.
Passar a mão pela cabeça
Significado: perdoar ou acobertar erro cometido por algum protegido
Origem: Costume judaico de abençoar cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela face, enquanto se pronunciava a bênção.
Gatos-pingados
Significado: Tem sentido depreciativo usando-se para referir uma suposta inferioridade (numérica ou institucional), insignificância ou irrelevância.
Origem: Esta expressão remonta a uma tortura procedente do Japão que consistia em pingar óleo a ferver em cima de pessoas ou animais, especialmente gatos. Existem várias narrativas ambientais na Ásia que mostram pessoas com os pés mergulhados num caldeirão de óleo quente. Como o suplício tinha uma assistência reduzida, tal era a crueldade, a expressão " gatos pingados" passou a denominar pequena assistência sem entusiasmos ou curiosidade para qualquer evento.
Meter uma lança em África
Significado: Conseguir realizar um empreendimento que se afigurava difícil; levar a cabo uma empresa difícil.
Origem: Expressão vulgarizada pelos exploradores europeus, principalmente portugueses, devido às enormes dificuldades encontradas ao penetrar o continente africano. A resistência dos nativos causava aos estranhos e indesejáveis visitantes baixas humanas. Muitas vezes retrocediam face às dificuldades e ao perigo de serem dizimados pelo inimigo que eles mal conheciam e, pior de tudo, conheciam mal o seu terreno. Por isso, todos aqueles que se dispusessem a fazer parte das chamadas "expedições em África", eram considerados destemidos e valorosos militares, dispostos a mostrar a sua coragem, a guerrear enfrentando o incerto, o inimigo desconhecido. Portanto, estavam dispostos a " meter uma lança em África".
Queimar as pestanas
Significado: Estudar muito.
Origem: Usa-se ainda esta expressão, apesar de o facto real que a originou já não ser de uso. Foi, inicialmente, uma frase ligada aos estudantes, querendo significar aqueles que estudavam muito. Antes do aparecimento da electricidade, recorria-se a uma lamparina ou uma vela para iluminação. A luz era fraca e, por isso, era necessário colocá-las muito perto do texto quando se pretendia ler o que podia dar azo a " queimar as pestanas".

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

"Há sempre uma estrela no Natal"

"O PRIMEIRO NATAL EM PORTUGAL

É véspera de Natal. Mas não para Irina. Para ela só será Natal a 7 de Janeiro, quando as aulas tiverem recomeçado.
A mãe aproveita umas horas extra, na pastelaria, para preparar fornadas de bolos-reis.
O pai, antes de sair, marcou-lhe páginas de trabalhos de casa. É preciso, para poder acompanhar os colegas.
Folheando o dicionário, a pequena ucraniana procura as palavras portuguesas que há-de escrever em frente das que tão bem conhece.


Tudo diferente! Até o abecedário… Na escola, os outros fazem pouco dela e chamam-lhe “língua de trapos”. Que quererá isso dizer?
Vai à página 190, logo em seguida à 293. Era de calcular…
Tem, no entanto, orgulho em ser a melhor a matemática. Ninguém a bate em contas.
Evita aqueles olhos escuros que se fixam nela, uns curiosos, outros trocistas, outros indiferentes.
Sente-se como uma extraterrestre. Porque é que os pais a mandaram vir?
Sola-se no recreio, a um canto, tentando desvendar a algaraviada das conversas. Às vezes, o Afonso murmura-lhe ao ouvido um segredo:
-Pareces uma fada!
E foge logo a correr.


Que palavrão será “fada”? Nem vale a pena procurar no dicionário. Algumas palavras que lhe dizem nem sequer lá vêm.
Com lágrimas nos olhos, Irina vai agora à janela e vê as luzinhas acender e apagar nas árvores despidas. Por trás das paredes deslavadas das velhas casas, decerto se celebra a consoada. Como será?
Doze pratos se punham na mesa de festa no Natal da sua terra. Uma em memória de cada apóstolo.
É Natal em Portugal. Que interessa? A família está dispersa. A mãe a fazer bolos-reis que não vai provar porque para os ortodoxos é tempo de sacrifício e jejum. O pai lá anda, na construção civil. Como mais ninguém queria trabalhar na noite de 24, foi, sozinho, pintar um café que está a ser remodelado, ao fundo da rua. Os dois irmãos mais novos ficaram em Priluki, lá longe, com a avó.
Irina aquece a sopa e arranja uma sandes de queijo.
De repente, sente um grito abafado no andar de cima.
Algum assalto? Alguém que caiu? Não sentiu passos nem o baque de uma queda…
Com o coração a bater, põe-se a espreitar pelo óculo. Nada!
- Acudam! Acudam!
Mais ninguém se encontra no prédio. As lojas do rés-do-chão estão fechadas, os vizinhos do primeiro andar foram de férias. Por cima, na mansarda, mora uma rapariga nova, gorda, pálida.
Irina abalança-se a subir. A porta encontra-se apenas encostada e a miúda entra, a medo. Já ninguém grita. Um gemido fraco ecoa ao fundo do corredor.
Haverá feridos? Tem horror ao sangue. Por um momento pensa em voltar para trás. Mas prossegue, pé ante pé, até ao quarto."


Luísa Ducla Soares, "Há sempre uma estrela no Natal" (excerto)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Balada da Neve

No decorrer da semana passada, a turma da Prof.ª Mónica, na Luís de Camões, trabalhou o poema de Augusto Gil, em vessão integral.
A escolha de tratamento do texto inteiro, decorre da temática social e humana que ele contempla na sua parte final.

Uma vez que os livros de texto, normalmente, apresentam apenas a primeira parte do mesmo, aqui fica, todo ele.

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O ouro

"Era uma vez um rei, que, tendo achado no seu reino algumas minas d'ouro,empregou a maior parte dos vassallos a extrair o ouro d'essas minas; e o resultado foi que as terras ficaram por cultivar, e que houve uma grande fome no paiz.

Mas a rainha, que era prudente e que amava o povo, mandou fabricar em segredo frangos, pombos, gallinhas e outras iguarias todas de ouro fino; e quando o rei quiz jantar mandou-lhe servir essas iguarias de ouro, com que elle ficou todo satisfeito, porque não comprehendeu ao principio qual era o sentido da rainha; mas, vendo que não lhe traziam mais nada de comer, começou a zangar-se. Pediu-lhe então a rainha, que visse bem que o ouro não era alimento, e que seria melhor empregar os seus vassallos em cultivar a terra, que nunca se cansa de produzir, do que trazel-os nas minas á busca do ouro, que não mata a fome nem a sede, e que não tem outro valor além da estimação que lhe é dada pelos homens, estimação que havia de converter-se em desprezo, logo que ouro apparecesse em abundancia.

A rainha tinha juizo."


in:CONTOS PARA A INFANCIA
ESCOLHIDOS DOS MELHORES AUCTORES POR GUERRA JUNQUEIRO
LISBOA
TYPOGRAPHIA UNIVERSAL DE THOMAZ QUINTINO ANTUNES, IMPRESSOR DA CASA REAL
Rua dos Calafates, 110
1877

Obra integral disponível em:
http://www.ihaystack.com/authors/j/guerra_junqueiro/00016429_contos_para_a_infncia_escohidos_dos_melhores_auctore/00016429_portuguese_iso88591_p001.htm

Este recurso foi utilizado na escola de Cruzeiro - Antas, para trabalhar famílias de palavras e muito mais, em 8 de Janeiro de 2008.